Zona de Conforto: ame-a e não deixe-a

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Era uma vez um excelente jogador de basquete. Profissional habilidoso, fazia o que queria entre as quatro linhas, extrapolando em muito todas as expectativas da torcida a cada nova partida.

Um belo dia (Pois essas coisas sempre acontecem em belos dias.) um empreendedor destes de palco, que também era coach e palestrante diplomado, aproximou-se e afirmou com toda convicção que ele, o jogador, precisava ‘pensar fora da caixa’, ‘sair da zona de conforto’, entre outros quitutes motivacionais. Afinal, era “fora da zona de conforto que as coisas aconteciam”. Mostrou posts com fotos do Leonardo di Caprio encarnando o Lobo de Wall Street e do Will Smith naquele filme que já nem lembro o nome. Enfim, depois de um insistente esforço, convenceu o jogador a romper os seus limites. A ir além. Enfim, a sair da sua zona de conforto. Para provar que tudo era uma questão de puro mindset, de crenças limitantes, de DNA mal programado, convenceu o jogador a inscrever-se na Travessia do Rio Amazonas, prova de nado aberto de longa distância. Era preciso dar um salto quântico. E o jogador foi. Seu corpo nunca mais voltou. <<Fim.>>

Me desculpe o final dramático desta pequena ficção. Sua única finalidade é provocar uma reflexão um pouco mais aprofundada sobre a tão demonizada Zona de Conforto. Me perdoe por não motivar você do jeito que está acostumado.

Podemos?

Convido você a deixar os clichês de lado e, analisando um pouquinho mais, aceitar a verdade incômoda de que é nela, a sua Zona de Conforto, que reside a sua melhor performance. Afinal, você a conhece melhor que ninguém. O entrave surge quando deixamos a Zona de Conforto estanque por muito tempo e a transformamos em uma zona de Inércia: sem aprendizado, sem crescimento, sem dinamismo, sem aumento da performance. Na inércia sim, é onde nada acontece e onde reside o problema. Ela é estacionária, letárgica, praticamente um decreto de morte das competências já adquiridas – que invariavelmente tornam-se obsoletas ao longo do tempo – e o aborto do que poderia ser e quase sempre acaba nunca sendo, aquilo que chamam por aí de Potencial.

Logo, simplesmente ‘sair’ quixotescamente da sua zona de conforto pode ser algo bem pior e trazer danos irreparáveis, do que ficando nela e mantendo o cuidado em fazê-la expandir-se. E a vida não cansa de nos colocar frente à mudanças irreversíveis, às quais só nos resta a adaptação na base de muita dor, sofrimento e nenhum romantismo.

O desenvolvimento pessoal legítimo trata de compreender quais são as fronteiras da sua zona de Conforto. Com lucidez. Com autoestima. Com aceitação sem drama das vulnerabilidades e de tudo o que você aprendeu até ali. E trata também de ampliar continuamente essas fronteiras, num exercício de construção crescente de performance.

Mesmo que você tenha optado – ou obrigado – a largar tudo e começar uma vida nova ou uma nova atividade, ela só vai apresentar algum resultado quando você passar a executar suas ações dentro de um mínimo conforto. Do

saber claramente o que se está fazendo, do contexto onde interage e a partir daquele momento em que as métricas, metas e métodos tornam-se claros, possibilitando assim um melhor monitoramento. Em todo projeto que envolva melhoria contínua, sejam empreendidos por pessoas ou empresas, o monitoramento é questão essencial para assegurar a consolidação, a sustentabilidade e a tão desejada exponencialização dos resultados, algo que se traduz em números e não em um substantivo bonitinho ou uma adjetivação para impressionar.

Michael Jordan, reconhecido como o maior jogador de basquete de todos os tempos, costuma dar lá seus pulos ‘profissionais’ também no golfe, o que foi possível somente após construir um mínimo de Zona de Conforto nessa modalidade que, na consciência do treino focado na melhoria contínua, foi se tornando gradualmente uma zona de performance crescente.

Portanto, se eu pudesse lhe dar um toque, ele seria: não seja inocente. Continue usando lá o seu filtro solar. Mas pare de tratar mal sua Zona de Conforto, pois é nela que reside sua real performance. Performance consciente, fundamentada, nem um pouco acidental, tampouco fruto de sorte. E que precisa ser ampliada contínua e conscientemente através de novos conhecimentos e atitudes.

Faça as pazes com ela, mas nunca, em hipótese alguma deixe-a a permanecer do mesmo tamanho por muito tempo.

🍎 Eduardo Zugaib – Profissional de Comunicação e Desenvolvimento Humano, atividades que se misturam ao longo de mais de 25 de anos de carreira. Escritor e conferencista em nível nacional. São mais de 10 anos provocando e inspirando pessoas e organizações para uma vida com mais Propósito, Protagonismo e Performance

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Maio 1, 2020 12:27 pm

Olá aqui é a Bárbara Oakley, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

eduardozugaib
Maio 22, 2020 5:01 pm

Que bom, Bárbara! É bastante recompensador saber isso. Muito obrigado pelo feedback e se cuide!

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