Talvez isso deva-se às incontáveis perdas de gente querida e muito próxima ao longo da vida, bem como aos inúmeros perrengues de saúde envolvendo outras tantas – inclusive eu – sinto que desenvolvi uma relação mais pragmática com as perdas. Algo que talvez seja chamado por aí de ‘casca grossa’. Isso está longe de ser insensibilidade, falta de empatia… nada disso. Nessa jornada que em 2019 completa 46 anos, passou a ser algo mais natural pra mim interpretar certos fatos da vida dentro de uma curva que vai da aleatoriedade à previsibilidade. Sofro com toda e qualquer perda, mas percebo a resiliência um pouquinho mais polida para lidar com elas. Parece uma tentativa de mostrar-me ‘durão’, mas asseguro que não é. Como costumam dizer por aí, as porradas da vida – e cada um sabe das suas – me fizeram assim.
Por quê fiz essa introdução? Apenas para ajudar a chegar no real motivo que me fez retomar, após um longo período, a escrita e publicação de reflexões. Ou talvez, no íntimo, para responder antecipadamente a eventuais julgamentos, aos quais ouvirei respeitosamente, sem necessariamente acatá-los por isso.
Avancemos um pouco mais, então.
Estamos nos primeiros meses de 2019. A menos que você viva dentro de uma bolha, certamente você já se impactou bastante – assim como eu – com as inúmeras perdas humanas que ocorreram neste período. De grandes tragédias contabilizando centenas de vítimas, passando pela perda prematura e impactante de grandes e queridas personalidades da mídia, até o último e sereno ato de pessoas muito queridas em suas áreas, verdadeiros totens, já beirando a centena dos anos. Não precisei falar nomes, pois a finalidade dessa reflexão não é essa. A todas elas e às suas famílias, os nossos sentimentos e mais profundo respeito. Que a justiça, o legado e as boas lembranças de cada uma delas prevaleçam, substituindo gradualmente a impotência e a dor da perda. Transformando-se naquilo que costumo chamar de saudade boa.
Espero até aqui ter massageado a sua receptividade, pois agora entrarei de sola no assunto: quero falar sobre crenças que nos limitam.
Tem sido muito comum, a cada perda que é anunciada e principalmente quando envolve personalidades, um certo amaldiçoar ao ano de 2019. Não raro leio manifestações do tipo “2019 já deu“, “pode vir 2020“, entre outras, apenas para resumir. Sim, o mesmo 2019 que até dia 31 de dezembro de 2018 era desejado e tido como um momento de recomeço, de reinvenção, de desapego de coisas antigas, de construção de novos projetos, enfim, tudo aquilo que a gente verbaliza como proposição de ano novo.
Do desejo de prosperar, natural às viradas de ciclo, diante das primeiras perdas passamos a incorporar um pesar que, sem nos darmos conta, torna-se uma maldição autoimposta. Uma paralisia que nos faz sentirmo-nos indefesos, tal como estátuas à mercê das intenções do próximo pombo.
Afinal, pessoas morrem todos os dias, das mais variadas formas e ao longo de todo ano. Umas dentro da aleatoriedade, do estar no lugar errado, na hora errada, cercadas de circunstâncias erradas. Outras apenas cumprindo aquilo que a nossa biologia compreende atualmente como longevidade.
Logo, a ideia não é ser insensível aos que partiram, mas provocar uma reflexão a quem aqui fica, com incontáveis missões e propósitos pessoais, profissionais e até mesmo empresariais. Provocar quem fica a trabalhar um pouco mais a resiliência diante destes revezes, aborrecimentos e tragédias, muitos deles inevitáveis.
Amaldiçoar 2019 parece algo reconfortante à primeira vista, afinal, queremos sempre explicar o imponderável, encontrar um culpado para as incertezas que nos cercam. Mas, posso assegurar a você, leitor, pela experiência de quem escreveu o primeiro parágrafo deste texto (se não lembra, volte lá), com o máximo que minha assertividade permite: este estado mental de impotência, de estar vivendo um ano maldito, além de matar nossa resiliência no ninho, reflete-se nos nossos sentimentos, que refletirão em nossa comunicação interior (aquela conversa que a gente mantém com a gente mesmo, sabe?), que por sua vez influenciará nossas atitudes e comportamentos (que podemos chamar aqui da nossa ‘conversa exterior’) e, por fim, nos nossos resultados. Aquele mesmo que você desejava no dia 1º, sabe?
Assim perpetuamos um ciclo vicioso que apenas mina cada vez mais nossa autoestima, nossa resiliência, nosso empreendedorismo, nossa capacidade de influenciar a/ou de lidar com a mudança, enfim, de viver a vida como ela é: imperfeita, incerta e indigesta muitas vezes e, justamente por isso, um lugar-tempo de profundo e contínuo aprendizado.
Nele, a nossa ATITUDE faz toda diferença, na incansável transformação dos pontos finais e da dor que muitos deles carregam em si, em novos parágrafos a serem influenciados pelo melhor de nós.
Não permita que isso aconteça com você. Se você lidera pessoas então, catalise essa vibe para outro lado, ampliando a consciência e a maturidade delas.
Não condene 2019, transformando o que resta do ano em uma cela, com requintes torturantes de autoflagelação.
A nossa existência é uma experiência de plenitude, um eterno menu degustação a ser apreciado sempre na consciência do aprendizado, mesmo diante de eventuais pratos que não nos satisfaçam, que nos provoquem mal estar ou até mesmo nos obriguem a ir vomitar escondido no banheiro.
A vida é pra ser vivida de verdade, mesmo quando somos obrigados a lidar e aprender com aquela que o senso comum admite como a única certeza que ela carrega em si.
Se você acha que o ano que está vivendo não presta, ATITUDE é o que te resta.
Autoria: Eduardo Zugaib – www.eduardozugaib.com.br
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